sábado, 21 de novembro de 2009

A rota dos castelos 16/10

Torre do Castelo de Sabugal

Saímos de Guarda logo depois do almoço. Tínhamos duas opções: seguir em direção à Serra da Estrela ou sair pela esquerda, nos aproximando da fronteira com a Espanha, para fazer o roteiro dos castelos. E essa foi nossa opção. Pegamos uma estrada secundária para conhecer o lado de dentro de Portugal e fomos direto para Sabugal. Nada é longe naquele país e no caminho cruzamos, com certeza, algumas vilazinhas, mas nenhuma tão especial que tenha permanecido na minha lembrança. A paisagem também é mais rústica, parece uma terra de cinzas, com muitas pedras, pouca vegetação e um ou outro alguém que vimos de relance. Quando olhávamos para conferir, já tinham passado.

Sabugal é uma vila do século XVII, contornada pelo Rio Côa. Nunca foi considerada um território importante na política de expansão para sul, mas teve, em alguns momentos da história, o papel estratégico de assegurar a defesa de terras conquistadas. Foi com essa finalidade que, no final dos anos 1200, D. Dinis mandou remodelar o castelo já existente, de quatro torres, dando a ela uma plana pentagonal, reforçando-o com uma quinta torre, chamada torre de menagem. O que nos contaram, nas conversas de rua, é que essa quinta torre foi construída bem acima das quatro originais para que o Castelo de Sabugal se tornasse o mais alto do país. Não sei se procede, mas o fato é que essa torre é mesmo muito alta, dá até vertigem. Cláudio preferiu não correr o risco e ficou nos observando lá de baixo.


O Castelo do Sabugal, que na prática exercia o papel de um forte militar, recebeu benfeitorias ainda durante dois períodos da história de Portugal, mas em 1846, seu interior foi transformado em cemitério e as construções ali existentes foram demolidas.
Durante o século XX, a região, como de resto todo o interior do país, sofreu um esvaziamento radical, provocado pelos movimentos de emigração. Entre os recenseamentos de 1950 e 2001, perdeu cerca de dois terços dos seus habitantes. A região em torno do castelo ainda preserva algumas construções de pedra que nos pareceram originais, mas do alto das torres vemos a cidade nova que surgiu do lado de fora das muralhas, e que nos pareceu bem recente. Uma cidade pequena, de construções baixas, nas quais predominam a cor branca, em forte contraste com o cinza escuro das casas de pedra.

Foi em Sabugal que ficamos conhecendo o sr. José Soares, hoje responsável pela administração do Castelo. Ele nos relatou um bom período da história da cidade e, depois, um pouco da sua própria história. Na década de 80, Portugal sofria os efeitos de uma de tantas outras crises que barravam a retomada do desenvolvimento econômico do país. Muitos jovens, que haviam deixado o interior em busca de novas oportunidades, ficaram desempregados, sendo obrigados a retornar a sua região de origem.

"Cheguei em Sabugal nessa época, junto com alguns amigos. O castelo estava abandonado, tomado pelo mato e entulhos. Decidimos, então, assumir o trabalho de recuperação dessa obra e de reconstituição da sua história. Trabalhamos na limpeza do prédio e na recuperação de documentos históricos. Desde então, nunca mais saí daqui" - contou o sr. José, responsável também pela guarda dos documentos históricos da cidade, administrando o Museu de Sabugal, que, dessa vez, ainda não pudemos visitar. Além dessas atividades, o sr. José é também um colecionador de cartões postais e nos pediu que, assim que chegássemos ao Brasil, enviássemos a ele postais da nossa cidade.

Como prometi, cumpri. Enviei postais de Ouro Preto, Congonhas, Diamantina, São João Del Rei e Mariana, cidades que, evidentemente, têm muitas semelhanças com as cidades portuguesas. Ele ficou muito satisfeito e nos respondeu imediatamente, nos convidando para voltar a Sabugal e, dessa vez, com mais calma, para podermos visitar o museu da cidade. Ficamos devendo mesmo, pois queríamos conhecer ainda mais uma cidade, antes de partirmos para Castelo Branco, onde pensávamos pernoitar. Ficamos devendo também uma estadia de mais dias para descobrirmos a nova Sabugal, de atrativos que não imaginávamos, como as trilhas, os esportes radicais, a caça à perdiz, ao coelho e à lebre, as montarias ao javali, a pesca de trutas no Rio Côa e os mergulhas nas praias fluviais. Ficou mesmo para uma para outra vez.

Quem quiser conhecer mais da história de Sabugal, é só clicar aqui.

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