domingo, 29 de novembro de 2009

Portalegre - 17/10

O tempo vai passando e as lembranças vão ficando um pouco embaçadas. Aquilo que já não consigo mais ver com muita clareza, tendo a querer preencher com invenções que ajudam a dar sentido às histórias que ainda permanecem na memória. Mas vou resistir. Vou deixar pra trás o que não voltar inteiro nas minhas lembranças. Uma coisa é certa: deixamos Castelo Branco um pouco antes da hora do almoço, com planos de fazer uma boa refeição em Portalegre. Tínhamos também outras pretensões, como as de conhecer o Museu da Cortiça e o Museu de Tapeçarias, duas atrações tipo imperdíveis da cidade. Mas estávamos próximos da fronteira com a Espanha e aí os costumes são outros e prevalecem sobre nossas necessidades.


É claro que chegamos a Portalegre um pouco depois da hora do almoço. Para ser mais exata, chegamos na hora da sesta e os dois museus estavam fechados. É claro também que não encontramos nenhum restaurante para sentar e saborear a cidade. Tivemos de nos contentar com uma lanchonete e a pouca conversa da mocinha que nos atendeu. E ela, por sua vez, mesmo falando pouco, não perdeu a oportunidade de se queixar da falta de incentivos e de políticas públicas para a região. A produção de rolhas, por exemplo, já foi sim uma atividade importante na cidade mas, desde que inventaram as rolhas de plástico, a produção caiu sem perspectiva de recuperar.


A Fábrica Corticeira Robinson entrou para a história da cidade e ainda funciona, usando algumas máquinas da época da sua fundação, alguma coisa em torno de 1835. Hoje, George Robinson, o fundador da Corticeira, deve estar se debatendo no túmulo por conta dessas rolhas de plástico. Ele no seu túmulo e, daqui, todos nós admiradores de um bom vinho. Ainda assim, ao longo da estrada e das redondezas de Portalegre ainda vimos muitos sobreiros, a árvore da qual se tira a cortiça, se multiplicando nos campos.


Depois do lanche, os rapazes ainda tentaram descobrir alguma coisa para vermos em Portalegre, mas foi uma busca inútil. Não culpo os costumes da região pela nossa falta de alternativa. Concordo que é um hábito saudável. Descansar um pouco depois do almoço é o meu sonho de consumo. Por isso atribuo a nossa frustração mais à nossa própria pressa. Se tivéssemos um pouco mais de tempo poderíamos ter esperado alguns minutos e visitado o Museu da Tapeçaria de Portalegre. Não sabia, mas existe um ponto chamado Portalegre que foi inventado ali, por Manuel do Carmo Peixeiro, que dizem ser muito bonito. O ponto, não Manuel, claro, que podia ser bonito também, mas que não tive oportunidade de conhece-lo nem em foto nem em outro tipo de registro, como um desenho. Além da coleção de tapeçarias, poderíamos também ter reforçado o lanche na cafetaria do Museu, que além do café, possui doces típicos da região. Mas as nossas horas estavam contadas em minutos. Enfim, viagem é assim mesmo. Como já disse, sempre deixamos coisas pra trás, na esperança de voltar um dia.

Sem ter um roteiro em mãos, saímos andando pela cidade. Tivemos a companhia dos gatos, que não precisam da sesta, pois dormem quando querem e em qualquer lugar. E também dos pombos, que habitam a praça em frente à Sé. Isso sim. Vimos a Sé, a catedral de Portalegre. Mas não entramos, porque estava fechada também. Construída em 1556, a sua fachada tem elementos do barroco do século XVIII. O seu interior, conforme nos informou o nosso guia de bolso, possui pinturas de artistas portugueses anônimos e a sacristia painéis de azulejos azuis e brancos, dos primeiros anos do séculos XVII. Devem ser maravilhosos! Teremos de voltar a Portalegre, sem dúvida.


Seguem os registros da Sé:


Os pombos que vagamundeam pela praça da Sé e que nos fizeram companhia na cidade.

A vista da fachada da Sé e um detalhe do sino.
À direita, um detalhe de uma das torres, onde algum pássaro, um pombo talvez, deu de fazer um ninho.

Ainda caminhamos um tempinho pela cidade, querendo ficar, mas querendo ir também, para não perdermos o foco da nossa jornada. Nosso destino era Évora. As distrações no meio do caminho, eram ganhos que guardávamos para inspirar nossa volta. E Portalegre permanecerá nos nossos roteiros futuros, com toda certeza.


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