domingo, 29 de novembro de 2009

Évora - 17/10


Chegamos em Évora já de tardinha. Eram 17 horas. A primeira impressão da cidade, a que fica, é a de que estávamos entrando em Ouro Preto. Uma Ouro Preto mais alegre, mais iluminada, mas com o mesmo movimento de gente indo e vindo, com os sobrados beirando as ruas, as lojinhas de uma porta só, vendendo lembrancinhas da cidade e os bares lotados de mochileiros. Ficamos confusos e desorientados: onde encontraríamos um Ibis para ficar? É claro que no meio da muvuca seria impossível. Melhor e até mais divertido seria buscar uma pousada num sobrado antigo, bem ao estilo da cidade. E aí foi bem mais fácil.
Estacionamos próximo às duas primeiras grandes atrações da cidade: as ruínas de um provável templo romano do século 2ºou 3º d.C. dedicado à deusa Diana e a Catedral de Évora, uma construção iniciada em 1186 e concluída em 1250. De lá, descemos a rua Cinco de Outubro e, na esquina da Rua de Diogo Cão, encontramos a nossa morada: Residencial Diana.

Como idealizamos na nossa caminhada, a pousada estava montada num sobrado muito simpático e antigo. Tudo bem, nem tão antigo assim quanto imaginávamos, mas do início do século passado, de 1914. Os quartos que conseguimos ficavam no andar da rua, ao lado da sala de televisão, mas eram muito acolhedores e nos faziam sentir hospedados em uma casa de família. E não tivemos nenhum problema com o barulho da rua nem com o som da televisão. Primeiro, porque às 11 horas da noite, mais ou menos, a rua já estava deserta. As pessoas estavam recolhidas aos seus aposentos ou, então, em outra área da cidade, dedicada às casas noturnas. Depois, não fomos importunados por nenhum plim-plim, porque ninguém vai a Évora para ficar sentado num sofá assistindo televisão, né? Venhamos e convenhamos, seria o maior programão de bobo. Os dois quartos tinham ainda outra vantagem: tinham casa de banho privativa. Isso foi muito bom!

Acomodamos as malas nos quartos e ainda saímos para dar uma volta na cidade, antes do jantar. Paramos primeiro nas ruínas do Templo de Diana, no Largo do Conde de Vila Flor. Foi impossível não nos lembrarmos da nossa própria Diana, uma whippet completamente desorientada. Sua brincadeira predileta era correr atrás do seu próprio rabo. Era tão querida, que os meninos inventaram até um refrão para a danadinha: Diana Rainha Daka, seu dilema é hiputinaka. Mas isso foi só uma divagação, até um pouco grosseira, pois as duas dianas nunca deveriam ser comparadas. Se bem que, não fui a primeira a cometer uma heresia dessa ordem. As ruínas do Templo de Diana, antes de serem resgatadas, por volta de 1870, foi usada como arsenal, teatro e matadouro. Isso mesmo, matadouro, sabe-se lá de quê.

Bem em frente ao Templo de Diana, vimos ainda o Convento dos Lóios, um mosteiro do século 15, transformado numa luxuosa pousada estatal. Vimos só por fora e parece muita bonita, mas os hospedes, pasmem, dormem em celas e jantam nos claustros. Achei muito estranho. No dia seguinte concluímos a visita, para conhecer a Igreja dos Lóios e as salas de exposição do Palácio. Depois volto aos Lóios, pois antes dessa visita, demos uma volta no Largo e voltamos a pousada para tomar um banho e sair outra vez para jantar. Esse jantar tem uma história.

Já eram mais de oito horas e estávamos realmente famintos. Descemos a Rua Cinco de Outubro para encontrar um restaurante que nos atraísse. Vimos dois bem simpáticos, mas já estavam lotados. Próximo deles, encontramos outro totalmente vazio. Não desconfiamos de nada e entramos animados para fazer um pedido bem especial. Tudo correu muito bem, fora o pedido do meu caçula, que tinha um nome estranho e o prato era ainda mais estranho.
Infelizmente, ou felizmente, porque certos fatos merecem mesmo ser esquecidos, hoje não consigo mais me lembrar o nome das coisas esquisitas que ele comeu. Seja o que for, não desceu bem e, a partir desse dia, o pobrezito penou com uma dor no estômago danada e ficou a base de água prata. Aprendemos a lição: restaurante vazio não é sorte, é um sinal de alerta. Não arrisquem, porque, com toda a certeza, o diabo é ruim mesmo. Fujam dos restaurantes vazios, onde for que estiverem. Prefiram sempre aqueles lotados, com gente saindo pelo ladrão, pois essa é a prova de que a cozinha ali é de boa qualidade.

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