O dia estava só começando
Depois da farra da noite anterior, retomamos a compostura. Levantamos cedo, tomamos um bom café da manhã, com pão caseiro, sucos, queijos, quitutes e outras aventuras. Fechamos a conta, a contragosto, e saímos para conhecer Guarda, uma das cidades mais altas de Portugal, a 1.056 metros acima do mar. Nessa época do ano, outubro, a cidade tem uma temperatura agradável e um céu bem azul.
Entrada do Museu da Guarda
Tenho uma capa chilrada, bilrada e gabripatalhada que
a levei à chilradoira, bilradoira e gabripatalhadoira,
para que ma chilrasse, bilrasse e gabripatalhasse,
que eu pagaria a chilradura, bilradura e gabripatalhadura.
Do Museu da Guarda saímos em direção à Catedral da Sé, uma das construções mais impressionantes que vi em Portugal. Mas, antes, fomos obrigados a fazer uma parada. Enquanto subíamos uma das ruas que nos levaria até o alto da cidade, onde fica a Sé, nos deparamos com a Casa do Presunto, com seus embutidos, salsicharias, queijos e outros atrativos. Foi irresistível: compramos um queijo da Serra e meio quilo de uma linguiça defumada super saborosa. Antes do almoço, fizemos uma boquinha com a nossa matula, mas nossa ideia era mesmo trazê-la conosco para dividi-la com os amigos. Até tentamos, só que a alfândega não deixou. São uns cabras bem encrenqueiros e achamos melhor não enfrentá-los. Ainda bem que beliscamos algumas porções durante a viagem.
As gárgulas assustadoras!
As cem imagens esculpidas no altar da Sé
Cenas das ruas de Guarda
Depois da farra da noite anterior, retomamos a compostura. Levantamos cedo, tomamos um bom café da manhã, com pão caseiro, sucos, queijos, quitutes e outras aventuras. Fechamos a conta, a contragosto, e saímos para conhecer Guarda, uma das cidades mais altas de Portugal, a 1.056 metros acima do mar. Nessa época do ano, outubro, a cidade tem uma temperatura agradável e um céu bem azul.
Não perdemos tempo pesquisando o comércio, mas, de plano, desconfio que tem um pouco de tudo o que uma cidade precisa para a sua sobrevivência. Sem ostentação, sem muita variedade, sem muita sofisticação, mas com o suficiente para atender os desejos de um consumidor bem comportado, como, me parece, são os portugueses.
Entrada do Museu da Guarda
A nossa primeira parada foi no Museu da Guarda, instalado no antigo Seminário Episcopal, uma construção de 1600 e qualquer coisa. O prédio, de blocos de granito, é austero como outros que vimos na cidade, de linhas despojadas, frias e límpidas. No seu interior, possui um pátio enfeitado com hortências floridas que poderia ser um bom lugar para meditações, mas não dispõe de nem um banco para sentarmos e ali nos deixarmos ficar. Uma pena.
O pátio interno do Museu da Guarda
O Museu abriga perto de 4 mil e 800 peças de coleções de arqueologia, numismática, esculturas sacras dos séculos XIII a XVIII, pinturas e armarias. Só para terem uma idéia, entre as peças, estão duas espadas da Idade do Bronze, um granito policromado do século XIII, representando Nossa Senhora da Consolação e armarias do século XVII ao século XX, que ajudam a documentar a evolução das armas neste período. Os rapazes ficaram impressionados, especialmente com uma miniatura de canhão, em bronze, apelidada de Josefina, datada de 1773 e, ainda, com uma pistola de palma de mão, com carregador circular em aço, decorada com aplicações em madrepérola. A pistola, do século XIX/XX, tem um cano circular em aço, muito doido, e, na extremidade oposta, o gatilho. Não sei se é muito prática, mas que o inventor dessa geringonça viajou na maionese, não tenho dúvidas.
Eu me impressionei com as pinturas e com uma exposição, não sei se temporária, de fotos, objetos e descrição de costumes da região. Me diverti com os painéis de trava-línguas e anotei um deles para guardar de lembrança e passar para os meus netinhos que, um dia, espero, virão:
Tenho uma capa chilrada, bilrada e gabripatalhada que
a levei à chilradoira, bilradoira e gabripatalhadoira,
para que ma chilrasse, bilrasse e gabripatalhasse,
que eu pagaria a chilradura, bilradura e gabripatalhadura.
Do Museu da Guarda saímos em direção à Catedral da Sé, uma das construções mais impressionantes que vi em Portugal. Mas, antes, fomos obrigados a fazer uma parada. Enquanto subíamos uma das ruas que nos levaria até o alto da cidade, onde fica a Sé, nos deparamos com a Casa do Presunto, com seus embutidos, salsicharias, queijos e outros atrativos. Foi irresistível: compramos um queijo da Serra e meio quilo de uma linguiça defumada super saborosa. Antes do almoço, fizemos uma boquinha com a nossa matula, mas nossa ideia era mesmo trazê-la conosco para dividi-la com os amigos. Até tentamos, só que a alfândega não deixou. São uns cabras bem encrenqueiros e achamos melhor não enfrentá-los. Ainda bem que beliscamos algumas porções durante a viagem.
Por fim, alcançamos a Catedral da Sé, um monumento à austeridade. É uma construção imponente, do século XIV, de aspecto fortificado, gigantesca e belíssima, toda em granito. Mede 52m de comprimento, 16,5m de largura e 20 de altura! Do prédio original, erguido em 1119, não restou nada. Mas o que sobrevive, foi iniciado em 1390. A obra se arrastou por 150 anos e, dizem, só foi concluída durante o reinado de D. Manuel I, graças ao empenho do bispo D. Pedro Gavião, a quem se deve a elevação dos edifícios, a construção das abóbadas, das torres e do pórtico principal. E ainda reclamam das nossas obras inacabadas...Mas aqui é outra história mesmo. Imaginem as dificuldades que enfrentaram para levantar essas paredes, de 20 metros de altura!
Segundo os entendidos, a Catedral da Sé de Guarda é um dos últimos monumentos portugueses dos tempos do gótico, apesar de ostentar evidências também da influência manuelina. Eu, que não sou uma entendida, fiquei muito impressionada com as gárgulas que rodeiam todo o entorno da construção. Parecem demônios nos tentando e nos obrigando a entrar correndo na Catedral em busca de proteção. Coisas da minha imaginação.
As cem imagens esculpidas no altar da Sé
Contrastando com o exterior um tanto pesado da Catedral, o interior encanta pela sua leveza, um efeito provocado não sei se pela sua altura descomunal ou se pela harmonia das abóbadas ou se pelo seu ambiente extremamente clean. Pelo menos essa foi a impressão que me ficou. Lá dentro, me encantou as meias colunas espiraladas e as 100 figuras entalhadas no alto da peça de altar, executadas na oficina de João de Ruão, como dizem os portugueses, ou Jean de Rouen, como diz o guia da Folha de São Paulo. Também observei, como em outras igrejas onde estivemos, as inscrições, talhadas no chão de pedra, de nomes de pessoas que, provavelmente, estão ali enterradas. Enfim, uma visita obrigatória para quem está passando por perto.
Cenas das ruas de Guarda
Ainda rodamos em volta e no entorno da Sé por um bom tempo. Acho que estávamos tomados pelo encantamento dessa construção. Queríamos vê-la de todos os ângulos possíveis. Queríamos mais informações também, mas, infelizmente, não encontramos ninguém para nos ouvir. Com isso, já sabem, chegou a hora do almoço. Cortamos algumas ruas abaixo da Sé e encontramos o Solar da Beira, que nos pareceu muito simpático e com preços bem convidativos. Dessa vez, pedimos um bacalhau ao brás e um lombo assado. De entrada, a sopinha básica de legumes, uma refeição já quase suficiente para a nossa fome.
O bacalhau ao brás estava uma delícia e sua receita não é tão difícil assim para os não iniciados na alta gastronomia. Segundo as orientações da cozinheira, passadas em bom português, é o seguinte: refogue a cebola, o tomate e o bacalhau destroçado numa frigideira com um tanto bom de azeite. Em outra panela, frite a batata, picada em tiras bem fininhas (eu acho que é ralada com aquele corte maior). Depois, misture tudo numa panela só e jogue um ovo por cima. Foi isso que entendi, mas ainda não testei, porque gosto mesmo é de bacalhau a Gomes de Sá.
Terminada a refeição, ainda andamos um pouco pela cidade antes de buscar o carro e pegar de novo a estrada. Foi uma manhã muito proveitosa!
Um comentário:
Muito boa escolha.
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