sábado, 30 de maio de 2009

No meio do caminho - 15/10

Vista de casarão na cidade de Viseu
Se foi difícil encontrar uma entrada para o Porto e depois do Porto para Vila Nova de Gaia, foi muito fácil sair. Não sei se porque já estávamos um pouco mais distraídos e nos deixamos levar ao sabor do vento ou se porque, de fato, é mais fácil encontrar as saídas. O fato é que pegamos a estrada sem nem perceber. Rodamos um tempo, apreciando a paisagem e tentando relembrar alguns detalhes do passeio para, mais tarde, anotá-los, assim que chegássemos em Guarda, nosso próximo destino. Mas a conversa rendia pouco, porque, mais uma vez, adivinhem.....estávamos famintos. Claro que fizemos um lanche no Porto, mas só um lanche e já eram quase cinco horas da tarde. A sorte é que já nos aproximávamos de Viseu, uma parada no meio do caminho.


Cenas do centro de Viseu

Vou confessar. Não achei muita graça em Viseu. Me pareceu uma Divinópolis com história, sem nenhum demérito para as duas, mas sem nenhuma atração especial para nós, turistas perdidos no meio do mundo. Viseu está no centro da região vinícola do Dão e, segundo o nosso guia de cabeceira, abriga construções belíssimas dos séculos XV e XVI. Mas, como já disse, a nossa fome era muito maior que a nossa curiosidade histórica. Rodeamos a primeira praça e paramos na primeira lanchonete que encontramos: Café do Bar. Era até charmosa, com retratos de escritores portugueses e mesinhas decoradas. Mas o balcão de salgados estava completamente desfalcado.

Entramos e saímos. Andamos mais uma quadra e entramos na lanchonete do povão. Nem prestei atenção no nome, mas no balcão farto de guloseimas e salgadinhos e nas paredes, decoradas com bandeiras de times portugueses: do Porto, Benfica e, especialmente, do Sporting. Bem no fundo, reinava triunfante um bandeirão verde do time e, ao lado, uma foto da equipe, provavelmente a campeã de algum campeonato. Numa das mesas da lanchonete, identificamos o personagem da cidade: um senhor, já de alguma idade, escondido dentro de um sobretudo preto e acomodado numa das mesas centrais da lanchonete. Apesar de bem posicionado, parecia alheio ao movimento a sua volta. Lia avidamente um livro de páginas já amareladas e, só de vez em quando, levantava a cabeça. Ainda sobre a mesa, papéis em branco, uma caneta e dois outros livros empilhados, ao lado de um xícara que, suponho, fosse de café. Sobre uma das cadeiras, pousava serenamente um chapéu preto, de abas bem comportadas.

Casarão, na saída de Viseu

Viajamos. Será que ele pensa que é um Fernando Pessoa? Será que ele é Fernando Pessoa? Será um poeta? Ou será que está escrevendo um grande romance? Será que Viseu é sua personagem? De tempos em tempos, o senhor levantava a cabeça e nos olhava com seus olhos azuis. O que será que estava pensando? Será que também nos encontrara como personagens de sua história? Depois desviava os olhos e fitava a rua, onde alguns jovens, em rodinha, jogavam conversa fora. Respirava fundo e voltava para sua leitura silenciosa. Não ousei fotografá-lo, claro, mas sua imagem está nitidamente gravada nas minhas lembranças dessa cidade.

O por do sol na estrada, rumo a Guarda

Já estava entardecendo e tínhamos ainda um compromisso com Guarda, por isso não nos permitimos mais devaneios e pegamos estrada de novo. Foi uma boa decisão, pois pudemos assistir ao por do sol e relembrar os fins de tarde em Belo Horizonte. Chegamos em Guarda por volta das 7 horas da noite, a lua já estava alta e, mais uma vez ficamos meio perdidos. Mas os portugueses são muito prestativos. Encontramos, logo na entrada da cidade, Seu Vieira que, prontamente se dispôs a nos guiar até o centro e nos indicar algumas opções de hospedagem.

Graças a deus, esse também estava lotada. Era uma nota!

Tentamos, primeiro, os residenciais, por serem mais charmosos. Mas estavam todos lotados. Fiquei boba. Estávamos numa ponta perdida de Portugal e, ao que parece, junto com algumas centenas de outros turistas, que também imaginavam estar num fim de mundo. Mas seu Vieira explicou: não são bem turistas. Estão construindo um shopping na cidade e os trabalhadores estão espalhados por essas hospedagens. Partimos então para opções mais caras, mas também não tivemos sorte. O Residencial Santos, por exemplo, que nos pareceu bastante sofisticado, não tinha vagas. Por fim, seguimos o conselho de Seu Vieira e fomos para o Hotel Turismo.

Fachada do Hotel Turismo. O atendimento é nota mil!

Ele havia nos advertido que este era um hotel mais velho, mas havia sido reformado recentemente e poderíamos dar sorte de ser bem recebidos. Demos muita! Foi o melhor lugar onde nos hospedamos. Era uma construção mais velha mesmo, não antiga, mas extremamente confortável. Ficamos num apartamento imenso: hall de entrada, sala de estar, quarto imenso, com a cama de casal e mais uma, onde os meninos poderiam até ter dormido, se soubéssemos. Tinha ainda penteadeira, cômoda, closet e um banheirão de todo tamanho, com água farta e quentinha. O quarto dos meninos não ficou por menos.


Uma das vistas do quarto do hotel

Era um quarto bem grande também, com duas camas enormes, cômoda e um banheirão de todo tamanho, dava até para dar uma festa lá dentro, além de um varandão com vista para a cidade. Tudo de bom!



Detalhes da super suíte

Curtimos um pouco o conforto do quarto, pois sairíamos logo cedo pela manhã. Abrimos todas as portas de armários, vasculhamos as gavetas, pulamos nas camas de colchão de mola, demos boas gargalhadas e posamos para foto no sofá de quatro lugares da sala de estar da suíte. Os meninos aproveitaram a banheira, que mal conheciam, para tomar um banho principesco e ainda fizemos hora no varandão, contando estrelas. Só depois de um tempo, descemos para jantar. Resolvemos ficar por ali mesmo e conhecer o restaurante do hotel, instalado num salão imenso, com mesas redondas enormes, forradas com toalhas brancas e enfeitadas com um jarro de flores naturais.

Pedimos o de sempre: bacalhau. De entrada, um pão caseiro com uma porção de queijo da Serra da Estrela e um vinho tinto da região. Divinos. O queijo da Serra é feito a partir de leite de ovelhas e fabricado no inverno. É uma das preciosidades de Portugal. A mostra que experimentamos, segundo o maitre, já estava curada, pois estávamos num fim de safra, mas, na sua opinião, são os melhores queijos. Tem uma casca mais firme por fora, mas, por dentro, conserva a sua consistência cremosa. O sabor é marcante sem deixar de ser delicado. Foi uma grande entrada, melhor que o principal. Não que o bacalhau não estivesse bom, mas o queijo da Serra foi a novidade do dia. Pena ter deixado a máquina no quarto. Não pude registrar esse grande momento, para alívio dos rapazes. Depois disso tudo, apagamos.

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