Acomodamos as malas nos quartos e ainda saímos para dar uma volta na cidade, antes do jantar. Paramos primeiro nas ruínas do Templo de Diana, no Largo do Conde de Vila Flor. Foi impossível não nos lembrarmos da nossa própria Diana, uma whippet completamente desorientada. Sua brincadeira predileta era correr atrás do seu próprio rabo. Era tão querida, que os meninos inventaram até um refrão para a danadinha: Diana Rainha Daka, seu dilema é hiputinaka. Mas isso foi só uma divagação, até um pouco grosseira, pois as duas dianas nunca deveriam ser comparadas. Se bem que, não fui a primeira a cometer uma heresia dessa ordem. As ruínas do Templo de Diana, antes de serem resgatadas, por volta de 1870, foi usada como arsenal, teatro e matadouro. Isso mesmo, matadouro, sabe-se lá de quê.
domingo, 29 de novembro de 2009
Évora - 17/10
Acomodamos as malas nos quartos e ainda saímos para dar uma volta na cidade, antes do jantar. Paramos primeiro nas ruínas do Templo de Diana, no Largo do Conde de Vila Flor. Foi impossível não nos lembrarmos da nossa própria Diana, uma whippet completamente desorientada. Sua brincadeira predileta era correr atrás do seu próprio rabo. Era tão querida, que os meninos inventaram até um refrão para a danadinha: Diana Rainha Daka, seu dilema é hiputinaka. Mas isso foi só uma divagação, até um pouco grosseira, pois as duas dianas nunca deveriam ser comparadas. Se bem que, não fui a primeira a cometer uma heresia dessa ordem. As ruínas do Templo de Diana, antes de serem resgatadas, por volta de 1870, foi usada como arsenal, teatro e matadouro. Isso mesmo, matadouro, sabe-se lá de quê.
Portalegre - 17/10
É claro que chegamos a Portalegre um pouco depois da hora do almoço. Para ser mais exata, chegamos na hora da sesta e os dois museus estavam fechados. É claro também que não encontramos nenhum restaurante para sentar e saborear a cidade. Tivemos de nos contentar com uma lanchonete e a pouca conversa da mocinha que nos atendeu. E ela, por sua vez, mesmo falando pouco, não perdeu a oportunidade de se queixar da falta de incentivos e de políticas públicas para a região. A produção de rolhas, por exemplo, já foi sim uma atividade importante na cidade mas, desde que inventaram as rolhas de plástico, a produção caiu sem perspectiva de recuperar.
A Fábrica Corticeira Robinson entrou para a história da cidade e ainda funciona, usando algumas máquinas da época da sua fundação, alguma coisa em torno de 1835. Hoje, George Robinson, o fundador da Corticeira, deve estar se debatendo no túmulo por conta dessas rolhas de plástico. Ele no seu túmulo e, daqui, todos nós admiradores de um bom vinho. Ainda assim, ao longo da estrada e das redondezas de Portalegre ainda vimos muitos sobreiros, a árvore da qual se tira a cortiça, se multiplicando nos campos.
Depois do lanche, os rapazes ainda tentaram descobrir alguma coisa para vermos em Portalegre, mas foi uma busca inútil. Não culpo os costumes da região pela nossa falta de alternativa. Concordo que é um hábito saudável. Descansar um pouco depois do almoço é o meu sonho de consumo. Por isso atribuo a nossa frustração mais à nossa própria pressa. Se tivéssemos um pouco mais de tempo poderíamos ter esperado alguns minutos e visitado o Museu da Tapeçaria de Portalegre. Não sabia, mas existe um ponto chamado Portalegre que foi inventado ali, por Manuel do Carmo Peixeiro, que dizem ser muito bonito. O ponto, não Manuel, claro, que podia ser bonito também, mas que não tive oportunidade de conhece-lo nem em foto nem em outro tipo de registro, como um desenho. Além da coleção de tapeçarias, poderíamos também ter reforçado o lanche na cafetaria do Museu, que além do café, possui doces típicos da região. Mas as nossas horas estavam contadas em minutos. Enfim, viagem é assim mesmo. Como já disse, sempre deixamos coisas pra trás, na esperança de voltar um dia.
Sem ter um roteiro em mãos, saímos andando pela cidade. Tivemos a companhia dos gatos, que não precisam da sesta, pois dormem quando querem e em qualquer lugar. E também dos pombos, que habitam a praça em frente à Sé. Isso sim. Vimos a Sé, a catedral de Portalegre. Mas não entramos, porque estava fechada também. Construída em 1556, a sua fachada tem elementos do barroco do século XVIII. O seu interior, conforme nos informou o nosso guia de bolso, possui pinturas de artistas portugueses anônimos e a sacristia painéis de azulejos azuis e brancos, dos primeiros anos do séculos XVII. Devem ser maravilhosos! Teremos de voltar a Portalegre, sem dúvida.
Seguem os registros da Sé:
Os pombos que vagamundeam pela praça da Sé e que nos fizeram companhia na cidade.
A vista da fachada da Sé e um detalhe do sino.
À direita, um detalhe de uma das torres, onde algum pássaro, um pombo talvez, deu de fazer um ninho.
Ainda caminhamos um tempinho pela cidade, querendo ficar, mas querendo ir também, para não perdermos o foco da nossa jornada. Nosso destino era Évora. As distrações no meio do caminho, eram ganhos que guardávamos para inspirar nossa volta. E Portalegre permanecerá nos nossos roteiros futuros, com toda certeza.
sábado, 21 de novembro de 2009
Castelo Branco - 17/10
Não vou arriscar grandes comentários sobre Castelo Branco. Já era noite, quando chegamos à cidade. Não foi difícil encontrar um hotel para nos instalarmos. Ficamos no Rainha D. Amélia, uma construção moderna e confortável. Tomamos um banho e saímos para jantar. A cidade nos pareceu próspera e, de fato, é a mais importante da Beira Baixa. Mas os vestígios da história estão muito dispersos e o que vimos foi a cidade moderna, com prédios altos, obras em vários pontos e nada que atraísse a nossa curiosidade de turistas. Não à noite. Não encontramos nem um restaurante típico, só barzinhos, com música alta, jovens tagarelando por todo canto e um cardápio típico do ambiente. Ou então, lanchonetes, com mesas de fórmica e luz branca. Por fim, achamos um restaurante bem médio, mas que nos serviu iscas de fígado, sopa de legumes e um lombo, não me lembro mais com o quê. Voltamos para o hotel bastantes frustrados.
No dia seguinte, logo depois do café, fomos direto conhecer os Jardins do Paço, ao lado do antigo palácio episcopal. O projeto, de inspiração barroca, é do século XVIII, do bispo João de Mendonça, se estou bem lembrada. É bem interessante e merecia ser visto, mas tenho de admitir, é muito bizarro também. Tem estátua para tudo quanto é gosto: dos signos, de anjos, das virtudes, dos reis, de santos, um samba do crioulo doido. São estátuas de pedra, não sei exatamente qual, acho que é granito, sei que não são de pedra sabão, como as que temos por aqui. O que fiquei sabendo é que, originalmente, eram de bronze e foram pilhadas, durante as invasões francesas, mas essa é outra história. Enfim, foi visto.
Castelo Branco é uma cidade também conhecida por suas colchas de seda bordadas, mas não tivemos tempo para sair procurando por elas. Fiquei apenas com o que já sabia: são colchas de linho bordadas com fio de seda natural, de inspiração oriental, que se tornaram conhecidas a partir de meados do século XVI. Alguns dos elementos desses bordados, conforme vi na wikipédia e não nas vitrines do comércio da cidade, são cenas domésticas e a árvore da vida; os desposados, representados por pássaros juntos, os cravos e rosas, representando o homem e a mulhres e ainda lírios e corações.A manhã já estava se esgotando e o nosso objetivo naquele momento era chegar em Évora a tempo ainda de passear pela cidade. Tudo bem, que em Portugal tudo é perto, mas existe sempre um caminho entre dois pontos para nos seduzir.
Cidade Misteriosa - 16/10
Estacionamos o carro na praça principal. Assim que descemos, encontramos duas portuguesinhas maravilhosas: dona Encarnação e dona Felismina. Elas estavam sentadinhas, esquentando o sol e trançando cestos de brecejo, uma fibra típica da região. Não resisti e puxei conversa. Como boas portuguesas, reclamaram da vida, das restrições que passam desde que a vila foi tombada e das dificuldades que o país enfrenta desde sempre. Hoje, só podem mesmo trançar cestos. Não podem mais plantar uma horta, cultivar oliveiras, criar pequenos animais, fabricar queijo, nada, nada, e nem empreender novas atividades econômicas.
Falando sobre o dia a dia na pequena vila, dona Felismina me explicou que é tudo muito simples. A cozinha é "conforme". "Comemos carne de frango, de peru, uma verdura ou outra e sopa. É conforme" -, resumiu ela. As duas amigas também me fizeram muitas perguntas. Ficaram maravilhadas com o fato de eu trabalhar fora de casa. "Existe emprego para você no Brasil? Isso é muito bom!" - comentou dona Encarnação, admirada de tudo. Mal sabe ela. No final da conversa, concordamos que éramos irmãs e, por isso, voltaríamos a nos ver, o mais breve possível. Eu acredito nisso.
A rota dos castelos 16/10
Saímos de Guarda logo depois do almoço. Tínhamos duas opções: seguir em direção à Serra da Estrela ou sair pela esquerda, nos aproximando da fronteira com a Espanha, para fazer o roteiro dos castelos. E essa foi nossa opção. Pegamos uma estrada secundária para conhecer o lado de dentro de Portugal e fomos direto para Sabugal. Nada é longe naquele país e no caminho cruzamos, com certeza, algumas vilazinhas, mas nenhuma tão especial que tenha permanecido na minha lembrança. A paisagem também é mais rústica, parece uma terra de cinzas, com muitas pedras, pouca vegetação e um ou outro alguém que vimos de relance. Quando olhávamos para conferir, já tinham passado.
Sabugal é uma vila do século XVII, contornada pelo Rio Côa. Nunca foi considerada um território importante na política de expansão para sul, mas teve, em alguns momentos da história, o papel estratégico de assegurar a defesa de terras conquistadas. Foi com essa finalidade que, no final dos anos 1200, D. Dinis mandou remodelar o castelo já existente, de quatro torres, dando a ela uma plana pentagonal, reforçando-o com uma quinta torre, chamada torre de menagem. O que nos contaram, nas conversas de rua, é que essa quinta torre foi construída bem acima das quatro originais para que o Castelo de Sabugal se tornasse o mais alto do país. Não sei se procede, mas o fato é que essa torre é mesmo muito alta, dá até vertigem. Cláudio preferiu não correr o risco e ficou nos observando lá de baixo.
O Castelo do Sabugal, que na prática exercia o papel de um forte militar, recebeu benfeitorias ainda durante dois períodos da história de Portugal, mas em 1846, seu interior foi transformado em cemitério e as construções ali existentes foram demolidas.
Durante o século XX, a região, como de resto todo o interior do país, sofreu um esvaziamento radical, provocado pelos movimentos de emigração. Entre os recenseamentos de 1950 e 2001, perdeu cerca de dois terços dos seus habitantes. A região em torno do castelo ainda preserva algumas construções de pedra que nos pareceram originais, mas do alto das torres vemos a cidade nova que surgiu do lado de fora das muralhas, e que nos pareceu bem recente. Uma cidade pequena, de construções baixas, nas quais predominam a cor branca, em forte contraste com o cinza escuro das casas de pedra.
Foi em Sabugal que ficamos conhecendo o sr. José Soares, hoje responsável pela administração do Castelo. Ele nos relatou um bom período da história da cidade e, depois, um pouco da sua própria história. Na década de 80, Portugal sofria os efeitos de uma de tantas outras crises que barravam a retomada do desenvolvimento econômico do país. Muitos jovens, que haviam deixado o interior em busca de novas oportunidades, ficaram desempregados, sendo obrigados a retornar a sua região de origem.
"Cheguei em Sabugal nessa época, junto com alguns amigos. O castelo estava abandonado, tomado pelo mato e entulhos. Decidimos, então, assumir o trabalho de recuperação dessa obra e de reconstituição da sua história. Trabalhamos na limpeza do prédio e na recuperação de documentos históricos. Desde então, nunca mais saí daqui" - contou o sr. José, responsável também pela guarda dos documentos históricos da cidade, administrando o Museu de Sabugal, que, dessa vez, ainda não pudemos visitar. Além dessas atividades, o sr. José é também um colecionador de cartões postais e nos pediu que, assim que chegássemos ao Brasil, enviássemos a ele postais da nossa cidade.
Como prometi, cumpri. Enviei postais de Ouro Preto, Congonhas, Diamantina, São João Del Rei e Mariana, cidades que, evidentemente, têm muitas semelhanças com as cidades portuguesas. Ele ficou muito satisfeito e nos respondeu imediatamente, nos convidando para voltar a Sabugal e, dessa vez, com mais calma, para podermos visitar o museu da cidade. Ficamos devendo mesmo, pois queríamos conhecer ainda mais uma cidade, antes de partirmos para Castelo Branco, onde pensávamos pernoitar. Ficamos devendo também uma estadia de mais dias para descobrirmos a nova Sabugal, de atrativos que não imaginávamos, como as trilhas, os esportes radicais, a caça à perdiz, ao coelho e à lebre, as montarias ao javali, a pesca de trutas no Rio Côa e os mergulhas nas praias fluviais. Ficou mesmo para uma para outra vez.
Quem quiser conhecer mais da história de Sabugal, é só clicar aqui.
sábado, 30 de maio de 2009
Depois da farra, a austeridade - 16/10
Depois da farra da noite anterior, retomamos a compostura. Levantamos cedo, tomamos um bom café da manhã, com pão caseiro, sucos, queijos, quitutes e outras aventuras. Fechamos a conta, a contragosto, e saímos para conhecer Guarda, uma das cidades mais altas de Portugal, a 1.056 metros acima do mar. Nessa época do ano, outubro, a cidade tem uma temperatura agradável e um céu bem azul.
Entrada do Museu da Guarda
Tenho uma capa chilrada, bilrada e gabripatalhada que
a levei à chilradoira, bilradoira e gabripatalhadoira,
para que ma chilrasse, bilrasse e gabripatalhasse,
que eu pagaria a chilradura, bilradura e gabripatalhadura.
Do Museu da Guarda saímos em direção à Catedral da Sé, uma das construções mais impressionantes que vi em Portugal. Mas, antes, fomos obrigados a fazer uma parada. Enquanto subíamos uma das ruas que nos levaria até o alto da cidade, onde fica a Sé, nos deparamos com a Casa do Presunto, com seus embutidos, salsicharias, queijos e outros atrativos. Foi irresistível: compramos um queijo da Serra e meio quilo de uma linguiça defumada super saborosa. Antes do almoço, fizemos uma boquinha com a nossa matula, mas nossa ideia era mesmo trazê-la conosco para dividi-la com os amigos. Até tentamos, só que a alfândega não deixou. São uns cabras bem encrenqueiros e achamos melhor não enfrentá-los. Ainda bem que beliscamos algumas porções durante a viagem.
As cem imagens esculpidas no altar da Sé
Cenas das ruas de Guarda