terça-feira, 18 de novembro de 2008

Fundação Calouste - 11/10

A manhã do segundo dia começou um pouco mais tarde. Perdemos a hora, como sempre, e só conseguimos por os pés na rua depois das 11. Que vale que não pretendíamos ir muito longe. O nosso roteiro começava com uma visita à Fundação Calouste Gulbenkian. Tinha pesquisado até a programação cultural do dia, para nos entrosarmos radicalmente com a cidade, mas essa nós perdemos. Ficamos só na visita ao Museu e foi melhor assim, pois passeamos sem pressa e sem compromisso pelos 16 salões que abrigam o acervo permanente da Fundação. Degustamos peça por peça e saciamos toda a nossa fome de arte.

Calouste Sarkis Gulbenkian era um grande financeiro, de origem arménia, que morou em Lisboa e faleceu exatamente no ano em que nasci, 1955. Conforme o seu desejo, manifestado em testamento, um ano depois da sua morte foi criada a Fundação com seu nome, com a finalidade, entre outras, de abrigar o Museu, aberto ao público, reunindo a sua coleção, com mais de 7 mil objetos, de moedas gregas clássicas, livros raros, cerâmicas islâmicas até as jóias de René Lalique, além de quadros fantásticos, como o Busto de São José, de Roger Van Der Weyden.

Gostamos de tudo mas, especialmente, do núcleo de arte islâmica, na Galeria 4, reunindo obras de cerâmica, azulejos, tapetes, tecidos, manuscritos, encadernações e vidros. Segundo os entendidos, uma das peças mais importantes desse acervo é um jarro de jade branco, executado para Ulugh Beg, príncipe da dinastia timúrida (1370-1506), conforme inscrição em relevo no gargalo. Mas, na minha ignorância, o que mais apreciei foram os azulejos, os veludos e as cerâmicas pintadas em azul e branco. São de enlouquecer. Os tapetes também são uma viagem. Ficaria dias ali, olhando os detalhes de cada ponto, se não fossem os rapazes me puxarem para os salões do núcleo de artes do extremo-oriente. Foi lá que vimos o conjunto japonês para piquenique, em madeira, revestida a laca preta e vermelha. Uma peça fantástica, pela delicadeza e pela praticidade.

Vejam alguns exemplos de tudo que vimos nas quase três horas de visita ao Museu Calouste Gulbenkian:

Os dois pratos em faiança pintada sob o vidrado são da Turquia, da 2ª metade do século XVI, do Período Otomano. São apenas dois exemplares de uma coleção vastíssima, que ocupava toda uma lateral do prédio. Fiz só uma foto ou outra, porque fiquei com vergonha de ficar clicando tudo que via ao invés de apreciar. Foi uma opção, mas esses dois exemplares já dão um gostinho do que pudemos saborear nesse passeio, não é não?

Os azulejos, também em faiança pintada sob vidro, são outro departamento, muitíssimo especial. São também da Turquia, da 2ª metade do século XVI, do Período Otomano, conforme está identificado nas etiquetas. Esse painel acima, em forma de tímpano, pertence a um conjunto de doze tímpanos idênticos, provenientes da mesquita de Piyale Pasha, em Istambul. Imagina-se que tenham sido retirados e substituídos por pinturas murais, em 1890, depois de um tremor de terra que danificou o prédio. Todos os painéis que vimos são lindíssimos e não saberia fazer uma escolha que não fosse aleatória para representar esse núcleo. Espero que gostem, como gostamos. Os azulejos de Calouste até me inspiraram um novo projeto. Quando me aposentar, vou fazer um curso de pintura em azulejos. Pelo menos vou tentar. Se conseguir aprender alguma coisa, vou arriscar algumas peças ao estilo turco otomano, século XVI. Se não, pelo menos terei me divertido.


As duas peças acima também fazem parte do acervo Calouste. A natureza morta é de Claude Monet, um óleo sobre tela de 1872. A cerâmica pintada em azul e branco ajuda a compôr a mesa retratada por Monet, mas o que achei mais curioso nesse quadro foi a melancia partida. Depois, li num folheto, que essa obra de Monet se sobressai pelo arrojado exercício de cor. A foto de baixo é de um relógio de bronze, adquirido por Calouste em Paris. A peça é de 1760/1770 e suas engrenagens estão perfeitas, marcam as horas pontualmente.
Vimos muitas outras peças deslumbrantes, como o quadro Figura de Velho, de Rembrandt (1645). As cores, a luz, os detalhes extremamente expressivos das mãos e do rosto da personagem dão grande densidade a esse quadro. Não quis fotografá-lo, preferi só olhar para não perder o encanto. Quem estiver indo a Portugal, vale a pena dedicar uma manhã inteira, mais longa que a nossa, só ao Museu Calouste Gulbenkian e quem não estiver indo, mas tiver a mesma curiosidade, vale a pena também fazer uma visita virtual ao Museu, clicando aqui . Eu vou, quando começar a esquecer tudo que vi e não fotografei.
Depois de nos fartarmos de artes tão delicadas, caimos na vida novamente. Mas esse capítulo fica para outro dia.

Um comentário:

Clará disse...

Ai, eu quero ir!!!

Tudo lindo!

E pode invetir no curso de pintura de azulejos mesmo, que o que nao vai faltar é encomenda!