Quatro dias é muito pouco tempo para conhecer uma cidade. Quando muito, dá para se ter uma idéia e já está de bom tamanho. Os museus, os monumentos, os pontos turísticos nos ajudam bastante a entender a cultura de uma região, mas não são suficientes. Às vezes, os personagens que encontramos na rua são mais expressivos que 100 folhas de documentos. Mas, para conhecer todos eles, seria necessário também mais do que quatro dias. Alguns, no entanto, são bem evidentes.
Os vendedores de castanhas, por exemplo. Em Lisboa, são como os nossos pipoqueiros. Estão em todas as praças e por toda parte. Não sei bem o que isso significa, mas está claro que esse fruto é bem mais popular em Portugal do que o nosso milho. Apesar de não ter identificado nem um souto de castanheiro pelas estradas por onde passamos, devemos ter cruzado com alguma dessas plantações, pois a castanha tem uma grande importância econômica para o país e ocupa o 2º lugar entre os produtos agrícolas exportados. Não que o milho não seja importante por aquelas plagas. Mesmo com a produção em declínio, existem por lá mais de 100 mil produtores de milho, a maior parte acima do Rio Mondego. Mas o milho é mais usado como ração e não para fazer pipocas. No Brasil também é assim, a maior parte da produção é para consumo animal, portanto, esse argumento não explica nada. Por isso, acho que, no final das contas, tudo é uma questão de gosto.
Nos dias que passamos em Lisboa e nos outros que andamos pelo interior, quase não vimos crianças. Sei que não são tão populares como são por aqui. Representam menos de 20% dos pouco mais de 10 milhões de portugueses e nem ficam andando pela rua sozinhas, como ficam por aqui. Isso faz a diferença e explica porque é tão difícil mesmo encontrá-las. Ainda assim, acabamos topando com uma, no metrô, quando íamos para o Parque das Nações. Não estava ameaçando ninguém, nem pulando de um lado para o outro, nem rindo, nem brincando. Estava lá, tocando o seu acordeon e recolhendo o merecido cachê, com a ajuda de um cãozinho danado de feio, mas simpático. A criança me pareceu melancólica, mas acho que estava fazendo um tipo. É outro personagem da cidade.
Mas ninguém pode imaginar quem mais encontramos pelas ruas de Lisboa. É inacreditável e ao mesmo tempo absolutamente previsível. Exatamente, exatamente. Estávamos em Belém, ao lado do Monumento dos Descobrimentos e quando olhamos para o lado, adivinhem? Isso mesmo, mais uma das equipes da multinacional de música regional boliviana. É impressionante como são eficientes, estão em toda parte e, coincidentemente, sempre em grandes momentos. Lá estavam eles.
Encontramos outros, como os bolivianos, porém, mais inusitados e menos seriados. Os músicos de Cabo Verde, por exemplo, que vieram animar o nosso almoço em Alfama, e uma turma que não identifiquei bem, mas que parecia ser de peles vermelhas, vinda diretamente das Américas. E outros personagens, como o policial fazendo a ronda usando a Coisa, a cabeça de um bacalhau e o ambulante que vende livros usados. E muitos outros, que não fotografamos, mas que aos poucos irei me lembrando.
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